O Homem homérico

Passando pela Grécia, acabei pensando em re-ler a Ilíada e Odisséia! E é surpreendente as fortes transformações que o homem homérico sofre entre a Ilíada e a Odisséia. O trecho em que Agamêmnom finalmente se retrata ante Aquiles e a Assembléia mostra que o homem homérico não é responsável por seus atos e pensamentos e sim os Deuses que o direcionam. E essa característica do homem homérico aparece em várias passagens da Ilíada como na frase dita por Agamêmnon quando se defende da acusação de ter escravizado Criside “mas a culpa não é minha, e sim de Zeus, e do Destino”. Outra característica marcante do guerreiro homérico é que, para alcançar a gloria, este sempre procura elevar a honra. O respeito à palavra também marca o homem homérico e é parte do treinamento que a criança passa antes de se tornar guerreiro.

O trecho em que Heitor enfrenta Aquiles apresenta outra situação em que os Deuses influenciam diretamente a vida humana. Isso é representado com a ação da Deusa Atená, pois, Heitor acreditando que Deífobo estava ao seu lado na luta, enfrenta Aquiles. Porém, a deusa Atená disfarçada de Deífobo engana Heitor, enquanto o verdadeiro Deífobo está dentro da muralha que contorna a cidade. Heitor joga sua última lança em Aquiles esperando ajuda do irmão, que nada faz pois na verdade é a Deusa Atená. Aquiles acaba por matar Heitor e levar seu corpo para o acampamento.

A morte para o guerreiro homérico é uma questão muito importante. Ele não aceita em hipótese nenhuma morrer anônimo. É através da morte que ele obtém Kléos. A glória do guerreiro homérico é morrer lutando, derramar seu sangue por um ideal. Heitor achava que os Deuses o chamaram para a morte ao acreditar que Deífobo estava presente, como mostra o trecho “Os deuses em verdade chamaram-me para a morte, eis que pensei que o bravo Deífobo aqui se encontrava, mas ele se encontra dentro da muralha, e Atenéia iludiu-me”. Seu desejo de morrer na realização de um grande feito mostra como era definida a honra do homem homérico, como diz no trecho “Agora, meu destino encontrou-me. Que eu não pereça docilmente, sem bravura e sem glória, mas praticando um grande feito para os ouvidos das gerações que hão de vir”.

Quando Aquiles estava no acampamento, após ter vencido Heitor, a Psyché de Pátroclo aparece e pede para que seu cadáver seja enterrado para que sua Psyché possa se libertar e, finalmente, ir para o mundo de Hades. “Dormes e esqueceste-me, Aquiles. Não foi em vida que me negligenciaste, mas na morte. Enterra-me sem demora, para que eu possa passar as portas do Hades” Pode-se perceber neste trecho a importância do destino, o físico e o psíquico, estão juntos. A Psyché de Pátroclo só será separada de seu físico após a cerimônia de sepultamento, que marca essa passagem para o mundo dos mortos. Outro trecho que mostra a importância do destino para o homem homérico é: “mas devorou-me um odioso destino que já era meu desde o nascimento. E também é teu destino, Aquiles, semelhante aos deuses, perecer sob a s muralhas de Tróia”.

Enquanto na Ilíada, os deuses comandavam as vontades e ações dos homens. Na Odisséia os homens comandavam suas próprias ações e respondiam por elas. O trecho da Odisséia, Canto I, 32 - 35 mostra uma assembléia dos deuses no Olimpo onde Zeus discute com os demais as acusações que sofrem pelos mortais e cita o caso do mortal Egisto que, desobedecendo a uma advertência de Zeus enviada por Hermes, mata Agamêmnom e seduz sua esposa. E Zeus ainda afirma “Meus caros, os homens costumam incriminar os deuses. De nós, dizem, vêm os males. Não consideram que eles padecem aflições causadas por desmandos próprios, contrariando Móros”.

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