Rio de Janeiro ~ A chave

Chego em casa e vejo o chaveiro de elmo grego pendurado do lado de fora da porta de entrada. Giro a chave, empurro a porta e descubro que ela esta trancada com o ferrolho...
Toco a campainha. Nada. Ligo para o celular do Dani e o ouço tocando na sala de estar... Nada. Ligo para o telefone de casa. Nada. Ligo novamente para o celular e este cai direto na caixa postal. Pânico. Ligo novamente para o telefone de casa, coração acelerado. Nada. Estou presa do lado de fora. Encosto o ouvido na porta e ouço o barulho da Alice arranhando o carpete na sala. Ouço também o som de uma sirene e do espelho batendo, de leve, na parede. A janela está aberta.
Toco a campainha repetidamente. Nada. Começo a suar... A raiva crescendo e molhando minha franja dentro do chapéu. Tiro o chapéu - mas eu ficava tão bonita com o chapéu. Jogo a bolsa no chão. Aproximo o rosto da porta, num gesto de desespero. A chave está do lado de fora. A porta está trancada por dentro. Ouço a Alice miando do outro lado. Ela sabe que estou ali. Ouço as pegadinhas do Grafitti na mesinha de madeira da sala de estar. Ele está dormindo. O Grafitti está na sala, então ele está dormindo. Coração parece que vai sair pela boca. Estou presa do lado de fora. A cabeça começa a girar de  nervoso, raiva, desespero. Começo a bater na porta: toc, toc, toc. O som oco sem resposta me deixa ainda mais desesperada. bato mais forte: TOC, TOC, TOC. Nenhuma resposta do outro lado. E então minha mão muda de posição e os toques se transformam em murros. A porta toda treme, o som ecoando no corredor: TUM, TUM, TUM. Nada.
O vizinho aparece, pergunta o que houve. Respondo, com os olhos mareados, que estou presa do lado de fora. Ele se oferece para ligar, digo que já fiz isso. Ele bate a porta, ninguém responde. Desisto. Desço de elevador até a portaria e peço para ligar para o apartamento. Ninguém atende. O desespero começa a se transformar em preocupação, e se aconteceu alguma coisa? Subo novamente. O vizinho já não estava ali, ufa, que alívio. Pessoas estranham me deixam ainda mais nervosa. Toco a campainha novamente. Encosto o rosto na porta, na frágil tentativa de perceber alguma evidência de que ele estivesse acordado, ouço uma voz feminina falando alguma coisa em inglês. A raiva toma meu corpo como chamas queimam uma folha de papel e explode num esmurrar estrondoso que quase derruba  a porta! Se antes havia chamado a atenção do vizinho, certamente agora chamaria a atenção até das pessoas que estavam na rua! Pego meu telefone na bolsa e novamente disco para casa, enquanto continuo esmurrando a porta. Ouço um clique.
O som da voz feminina agora é totalmente nítida, eletrônica. O som dos carros e buzinas aumentam. A Alice corre em minha direção, miando e se esfregando nas minhas pernas. Os olhos do Grafitti brilham na penumbra da sala de estar. E ele, parado na minha frente, segurando a maçaneta e com o fone de ouvido gigantesco pendurado no pescoço, pergunta: O que houve?!. 

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