Uma visão de Ulisses na ilha de Calipso

Ao abrir os olhos, avistou a imagem da perfeição. Seus longos cabelos cor de fogo caiam em forma de cachos sobre a pele alva dos ombros nus e estendiam-se até a cintura delicada, onde pendia um cinto finíssimo de pequenas flores vermelhas. Vestia uma leve seda branca bordada à mão com fios de ouro sobre os quadris e nos pés sandálias de couro dourado. Tudo nela irradiava luz. Seus olhos ficaram algum tempo fitando aquela visão magnífica, desejando-a.

Só depois percebeu que estava num lugar que nunca estivera antes. Olhou a sua volta e viu que se encontrava num aposento feminino e delicado, com espelhos e véus por toda parte. Era iluminado por finos candelabros de ouro que pendiam das paredes de pedra, cobertas de véus coloridos e transparentes. Tapetes tecidos com fios dourados cobriam o chão e nas janelas, cortinas de renda cobriam parcialmente a luz do sol.

Seu corpo repousava sobre uma confortável cama de véus, enrolado em vários lençóis de seda pura e brilhante, enquanto sua cabeça descansava sobre um travesseiro de penas macio e aconchegante. Suas feridas estavam tratadas e seu corpo limpo, estava nú e pode sentir o toque suave da seda na sua pele. Uma sensação prazerosa passou pelo seu corpo e desejou fundir-se ao tecido.

Sentiu um aroma floral com um leve toque amadeirado que estava por toda parte e seus sentidos ficavam cada vez mais aguçados, estava cada vez mais acordado. Ouviu o canto dos pássaros, o farfalhar das folhas agitadas pelo vento e um barulho longínquo de água, era uma fonte ou talvez um rio. E sentiu uma vontade imensa de mergulhar neste som, tornar-se água, fluir.

Estava perdido em seus pensamentos quando sentiu o cheiro forte de flores e o toque de seda nos lábios, um gosto doce invadiu sua boca e suas línguas se enroscaram como cobras. Abriu os olhos e viu os cachos vermelhos e a pele alva junto ao seu rosto, era Calipso que o beijava longa e deliciosamente debruçada sobre seu peito nu, esculpido pelos deuses. Todo o seu corpo acordou com aquele beijo.

Tomou-a em seus braços, segurando os cachos de fogo, suaves como pétalas de rosas, e levantou calmamente, enquanto Calipso acariciava seu corpo coberto de músculos e desejo, seu toque era suave como o vento. Sentindo o cheiro de flores, despiu a alça do vestido que impedia o contato de peles, deixando amostra seus seios perfeitos desenhados a pincel e beijou seu ombro delicado. Sentiu-se envolvido, desejou-a como nunca havia desejado nada, nem ninguém.

Tomou-a por completo e seu desejo parecia insaciável. Calipso suspirava em seu ouvido enquanto tocava suas coxas. O encontro de peles, o calor da paixão, a mistura de fluídos. E então os corpos nus entrelaçados tomaram um só ritmo. As unhas de Calipso arranharam levemente suas costas e um gemido de prazer chegou ao seu ouvido. O coração acelerado, suor, calor, seus músculos tencionaram, para depois relaxar.

Calipso repousa a cabeça em seu peito, cobrindo-o com os cachos vermelho-fogo enquanto o desejo do humano une-se à sua frustração, formando pensamentos sombrios e confusos. Não foi necessário nenhum esforço, a perfeição da Ninfa era suficiente para satisfazê-la. Ele se sente impotente perante a imponência de Calipso, um objeto de prazer da Deusa. Qualquer esforço seria desnecessário, pois a glória de Calipso estava em possuí-lo, tê-lo para si como um lindo troféu.

O desejo arrebatador de se sentir essencial e um vazio muito grande invadiram o coração de Ulisses, que no mesmo momento pensou em sua Ítaca, onde seus comandos e esforços são fundamentais. Pensou no amor imperfeito de Penélope como as folhas que caem das árvores no outono. Pensou nas crianças sujas, nas guerras. E deitado ali, na cama perfeita com a mulher perfeita desejou profundamente, a imperfeição da vida.

0 Comentários:

Postar um comentário

Comente, participe! Este também é um espaço seu!