Quarto de despejo – Diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus


  • Quarto de Despejo – Diário de Uma favelada
     Carolina Maria de Jesus

    ISBN: 8508043635
    Páginas: 173 
    Editora: Ática
    Ano de publicação: 2001

    “Quarto de Despejo” narra o cotidiano da favela e a vida miserável que vive um favelado, sob o ponto de vista de uma catadora de papel. Pessoas comendo lixo, morrendo de fome, lutando para conseguir qualquer tipo de alimento, o descaso dos governantes, são assuntos abordados por Carolina que escreve um diário retratando seu dia-a-dia e sua luta pela sobrevivência.

    O livro, em forma de diário, inicia-se em 15 de julho de 1955 e nas primeiras frases já é possível identificar a alma de sua literatura, a fome. “15 de Julho de 1955 – Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas o custo dos gêneros alimentícios nos impede a realização dos nossos desejos. Atualmente somos escravos do custo de vida.” O diário de 1955 termina em 28 de Julho e Carolina retoma sua narrativa em 2 de Maio de 1958, desta vez a fome está mais presente na sua literatura e a revolta também. “Os meninos estão nervosos por não ter o que comer (...) O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora (...) O que eu aviso aos pretendentes a política, é que o povo não tolera a fome”. Carolina registra sua luta diária contra a fome e a batalha para manter-se viva. “E assim no dia 13 de Maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome (...) É preciso conhecer a fome para saber descrevê-la (...) Quem passa fome aprende a pensar no próximo”.

    A fome é muito presente na vida de Carolina, que neste momento representa toda uma sociedade, e ao mesmo tempo é vista de maneira tão absurda e inadmissível que Carolina alude que leitor poderia não acreditar na sua narrativa “Há de existir alguém que lendo o que escrevo dirá... Isso é mentira! Mas as misérias são reais”. O texto é rico em comparações e foi a partir de uma destas comparações que surge o título do livro “Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visitas com seus lustres de cristais, seus tapetes de viludos, almofadas de sitim. E quando estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo”. Além da fome e da miséria, Carolina a também enfrenta a violência latente neste ambiente “Eu já estou tão habituada a ver brigas que já não me impressiono”.

    Outro ponto abordado no livro é o foco político da autora que descreve metaforicamente a relação dos governantes com o povo. “Quando um político diz nos seus discursos que está do lado do povo, que visa incluir-se na política para melhorar as nossas condições de vida pedindo nosso voto prometendo congelar os preços, já esta ciente que abordando esse problema ele vence as urnas. Depois divorcia-se do povo. Olha o povo com olhos semicerrados. Com um orgulho que fere nossa sensibilidade (...) Vi pobres sair chorando. E as lágrimas dos pobres comove os poetas (...) os poetas do lixo, os idealistas das favelas, um expectador que assiste e observa as tragédias que os políticos representam em relação ao povo”.

    Quarto de despejo está alem do retrato de uma favela, ma
    s é uma denuncia das condições de vida de uma sociedade marginalizada, por Carolina que tinha em seu poder uma arma poderosa, que ninguém jamais poderia tomar. A palavra. Quarto de despejo é um relato verídico da fome e da pobreza e através do olhar faminto de alguém que vivenciou e sofreu com a miséria.

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